Alguns comentários em relação à reportagem Sic/Visão 'Eu, Vegetariano':
A transição para o vegetarianismo não deve ser feita de um dia para o outro e de forma tão radical como a que o repórter se sujeitou. Subscrevo aqui a
resposta dada no Centro Vegetariano pelos médicos António Paiva e José Ramos : 'A transição entre dois tipos de dietas diferentes deve ser gradual, não feita de um dia para o outro. Com uma transição gradual, eventualmente passando por um período de ovo-lacto-vegetarianismo, o repórter teria certamente adquirido uma outra perspectiva. A transição para o Veganismo, como para qualquer outro tipo de dieta, exige um período de adaptação do organismo e de recolha activa de informação, para uma boa escolha dos alimentos e locais para adquiri-los ou tomar refeições'.
Nota-se que o repórter sofreu nestes dois meses e viu a sua rotina muito alterada. Entrou num estado de paranóia de vigilância de rótulos e pelos vistos foi alvo de gozo por parte de colegas e amigos.
Ser vegetariano é uma escolha individual que pode ser feita por muitas motivos (saúde, ambiente, religião, respeito pelos animais, etc.) Cada um tem os seus motivos, e a escolha deve ser feita em paz e consciência, sem stress nem paranóia. É importanto ler rótulos e sabermos o que estamos a comprar, não só na comida, mas em tudo. Ser consciente é diferente de ser paranóico.
Os resultados das análises não são surpresa, nem desilusão, como afirma a endocrinologista Isabel do Carmo. São o resultado esperado da transição brusca para uma dieta deficiente, feita sem a preparação devida.
O estudo comparativo dos preços dos cabazes (cabaz normal versus cabaz vegetariano) também não é de ter em conta. Este é um aspecto bastante relativo. Basta juntar ao cabaz normal peixe fresco e carne vermelha para o preço disparar.
O repórter afirma: 'Não quis ser um case study nem provar coisa alguma. Também não o fiz por motivos espirituais ou de compaixão pelos animais. Quis apenas testar-me a relatar as alterações drásticas do meu quotidiano'. Bem, pelo menos fez a ressalva do carácter pouco científico do seu trabalho.
Esta reportagem não é portanto um estudo sobre o vegetarianismo, mas somente a história de dois meses diferentes na vida deste jornalista. Não se percebe bem o objectivo da história, pois não prova nada e não traz qualquer tipo de conclusão útil para o público.
Temos aqui um Morgan Spurlock mais 'soft', à moda portuguesa.